segunda-feira, 6 de julho de 2009

Paisagens e referentes

frente

Há exatos 13 anos, em julho de 1996, circulava o número 12 do Jornal de Fotografia, editado por Alberto Melo Viana.
O jornal só trazia fotos em P&B. Seria pela preferência do editor ou por viabilidade econômica? Não se sabe nem se perguntou, mas é certo que o jornal mostrava trabalhos excelentes, quase sempre retratando as gentes do Brasil, em todos os cantos do país.
No referido número 12 está um ensaio chamado TU I TAM (Aqui e Lá), de João Urban. Um trabalho sobre a imigração polonesa no Brasil, que na ocasião não estava concluído. Urban vinha retratando famílias polonesas e seus descendentes desde 1980, em várias colônias do Paraná. Era um livro em preparação, que seria lançado anos depois.
TU I TAM é um trabalho completo. Compara regiões de onde vieram os imigrantes poloneses com as colônias onde se fixaram, no sul do Brasil. A correspondência entre costumes acaba reconstituindo a saga desse povo.
As fotografias de João Urban também fazem lembrar o livro Um Brasil Diferente, de Wilson Martins. É a melhor revisão histórica sobre os imigrantes que chegaram ao Paraná desde meados do século XIX.
Vale um trecho: “Os excessos repugnam à natureza íntima do Paraná. E quanto ao homem em si mesmo, é suficiente conviver com um paranaense típico para verificar que se trata do contrário do homem expansivo, amante de gestos escandalosos ou das atitudes coloridas e dos entusiasmos fáceis. São traços da psicologia inegavelmente influenciados pela paisagem”.
Com a referência a paisagem, pode-se ir muito longe na imaginação e muito perto do que tratamos aqui, a fotografia e o seu estímulo soberano, o olhar.
No dizer do documentarista Eduardo Baggio, “existe um fator especialmente importante nos estudos de comunicação e linguagens: a relação do referente com a realidade, em uma acepção particular, a do olhar”.
É bom lembrar, referente: o que se refere. As fotografias de João Urban e os escritos de Wilson Martins são equivalentes para fazer pensar, não apenas sobre como dois artistas se referem a nossa gente. Antes e mais, sobre como o povo paranaense reflete sua paisagem.


meio

verso

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