quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Uma enorme campanha de publicidade

“Tudo o que pessoas como nós fazem, vai para os jornais. Decidimos usar esse espaço como propaganda para a paz”.
Assim fala John Lennon no documentário Imagine (1988), dirigido por Andrew Solt.
São muitas imagens de arquivo, algumas inéditas até o ano de lançamento.
Imagine supera a nostalgia típica da beatlemania. Depoimentos e vídeos de momentos e estados de espírito que pautaram cada disco da banda, se revezam com a rotina de Lennon já nos 70’, na sua mansão em Ascot, Inglaterra.
A base do filme é essa casa, para onde ele se mudou com Yoko Ono, em 69.
A montagem parece dividir o roteiro entre o homem pós Beatles, já sobre forte influência de Yoko, e o John que partindo de Liverpool foi amadurecendo ao longo dos anos 60.
Célebres momentos que agradam qualquer um que admire a história da mídia e de pessoas públicas decisivas.
Numa entrevista, a repórter Glória Emerson, do New York Times, questiona o conhecimento de Lennon para propagar a paz. O fato de ele recusar um título pomposo concebido pela rainha da Inglaterra não passaria de fingimento.
Poucos anos depois do famoso maio de 68, ela via o casal tirar a roupa e dizer “a guerra termina se você quiser”. A jornalista achava tudo aquilo autopromoção burguesa.
“Quer gestos bonitos e de classe média para a paz? E manifestos intelectuais escritos por um bando de intelectuais de segunda que ninguém lê! Esse é o problema com movimentos para a paz!” Assim Lennon respondeu.
“É uma grande campanha de publicidade!” Falou ainda como quem diz, acorde! Eu apareço muito no mundo todo e por isso posso ser um símbolo para a paz sim, mesmo com você e os militantes classistas torcendo o nariz.
John sabia que sua figura significava uma porrada de coisas, porquê não aproveitar essa realidade?
De certa forma ele gritava o fim do purismo idealista, de não compactuar com a “sociedade do espetáculo” para promover as causas de liberdade. Era o jeito.
Os Beatles foram um fenômeno de TV, mais do que de rock’n roll. Lennon se acostumara e aprendera assim.
É bom não esquecer que Yoko Ono foi ligada aos situacionistas, aqueles dos Happines e locações performáticas que tem algo a ver com todo a áurea de 68. Seriam esses que John chama de intelectuais de segunda? Não se sabe ao certo.
Novamente acusado de espalhar seu idealismo por dinheiro, como na entrevista coletiva que eles deram nus, na cama, ele diz que com uma só música poderia ganhar mais dinheiro que com toda a campanha. Também nunca vai se saber.
É muita coisa para saber. Mas assistir a imagine, é realmente mais do que ver um globo repórter ou documentário da BBC sobre os garotos de Liverpool e o frison que causaram.
É um registro mais requintado e de repertório reflexivo, que faz pensar uma época, mais do que a pessoa de um rock star.
Vale uma locada. Mesmo se tratando, de novo, sobre um beatle.

Lennon e Yoko em entrevista coletiva na cama do casal.

Imagens Captadas da TV

Um comentário:

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado