domingo, 31 de maio de 2009

Polaroids Vaginais

Se existe escrita original é a de Fausto Fawcett. Conhecido e já meio esquecido como o senhor das loiras como Regininha Poltergeist, compositor do sucesso Kátia Flávia, popularizado na voz de Fernanda Abreu. Kátia Flávia...

Que só usa calcinhas comestíveis e calcinhas bélicas
Dessas com armamentos bordados
Calcinha de morango
Calcinha geladinha
Calcinha de rendinha
Ex-miss Febem
Encarnação do mundo cão
Casada com um figurão contravenção ...

Mas pouca gente sabe que além dos shows que Fawcett tramou com as loiras, das parcerias com celebridades da música, ele publicou em texto, essa coisa toda.
O livro Básico Instinto, mesmo nome do espetáculo performático que viajou pelo Brasil no início dos anos 90, é um dos exemplos.
No dizer do cineasta Cacá Diegues, que assina o prefácio, Fausto “talvez seja o primeiro escritor brasileiro a reproduzir essa estrutura de pensamento audiovisual em seu texto”.
Para Diegues, uma nova lógica desse aparato visual se revelava na inspiração de Fawcett em cidades como o Rio que: “são compostas de sua real paisagem e da imagem delas, até o ponto em que ambas se confundem e formam um terceiro real que habita o inconsciente de suas populações".
Pode ser que esses efeitos não sejam tão surpreendentes hoje, já que acabamos assumindo com o tempo que somos uma sociedade de imagem. Mas em 1992 essa percepção era privilégio de poucos estudiosos da linguagem da mídia e da semiótica.
Um trecho: “Angústia sensorial. De tanto ver o mundo ser transformado em imagem, de tanto ver a vida ser transformada em show de realidade patrocinada, os habitantes do gueto capitalista já não sabem o que é e o que não é real. Não sabem se seus sentimentos são seus mesmo ou se são ficção de personalidade. Bombardeados pelo delírio das ficções comerciais e não comerciais, eles vivem envolvidos com mundos que só existem no desejo”.


Flashes explodem na cara
Outra leitura surpreendente é Copacabana Lua Cheia, um livro-revista que, descrito pelo próprio autor, “é uma espécie de carta urbana inspirada em Copacabana”.

Um trecho: “ Flash na boceta. Polaroid Vaginal é tão normal em se tratando de Samantha Kelly Morgan, vadia letrada que viaja bancada por revistas de pesquisa do terceiro mundo, baseadas no primeiro. Ela na faz reportagem para denunciar ou criticar ou expor mazelas da injustiça social global. Ela sabe que todas as civilizações têm muito de morte organizada, muitos têm que sobrar para uma minoria prosperar e ponto final. Se não tiver gente fodida não tem graça”.

2 comentários:

Lina Faria disse...

Bela postagem, Guilherme. Vou indica-la.
Lina

Guilherme Artigas disse...

Valeu Lina! O bom dos blogs é que não temos compromisso com lançamentos, e sim com o que gostamos e com o que sempre será bacana.
Boa semana.

Grato, Guilherme