quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Por um fotojornalismo contaminado

Recordando.
A revista Bravo de Julho de 2002 traz na capa: “Retrato do Brasil – Uma série de exposições revela o perfil histórico e a arte da nova fotografia do país”.
Com o título “Documento e Contaminação” a matéria revisava a inserção gradativa da fotografia brasileira em museus e circuitos de arte.
Na ocasião, cinco grandes exposições simultâneas davam destaque àquela temporada. A maior delas era a do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), que selecionara 100 obras da produção nacional da década de 40 até o ano de 2000.
O texto assinalava que o primeiro museu brasileiro a “abrigar fotografias”, foi o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Em 1948 o MASP promoveu a primeira exposição individual de um fotógrafo, o Húngaro Thomaz Farkas. Em 1991 o mesmo museu “passou a colecionar fotografias de forma sistemática”, criava então a famosa Coleção Pirelli.
É mais do que uma revisão histórica. Pedro Karp Vasquez , o autor do texto, observa as escolhas das referidas coleções falando da “ênfase dada à produção mais recente, daqueles autores que trabalham com a expressão fotográfica ‘contaminada por outras modalidades artísticas’”.
Na esteira disso, Karp ainda faz constar: “cumpre observar, no entanto, que no campo da fotografia documental e jornalística, ainda não se verifica a mesma abrangência dada a fotografia “contaminada”. Segundo ele, ficaram de fora nomes importantes, de revistas como O Cruzeiro (dessa ele citou Flávio Damm, entre outros), da Realidade (Walter Firmo), além de outras gerações de Veja e Isto É.
Não sobre a ausência dos nomes, já que as referidas coleções estão sempre em construção, mas sobre o que ficou intrínseco no apontamento de karp, pode-se, atualmente, refletir sobre a contaminação que o fotojornalismo está sofrendo.
Percebe-se, cada vez mais, tanto em coletâneas, como nos blogs de fotojornalismo e mesmo nas páginas da imprensa (ainda com alguns obstáculos), um fotojornalismo mais criativo e inventivo do que nunca. Não no sentido de distorcer, mas no de ultrapassar a documentação. Não para “mudar” a realidade reportada, mas para dar extensão ao pensamento sobre ela.
Um bom exemplo é a edição de 2009 da Biblioteca Fotografe (Editora Europa), “O melhor do fotojornalismo Brasileiro”. A edição de 2010 já estaria no prelo, segundo rumores. Ali o leitor pode ver um fotojornalismo totalmente incrementado pela percepção de um “mais”, seja na captação ou na escolha das imagens.
Folheando o livro, observa-se o típico do fotojornalismo: precisão, senso de oportunidade, esforço para obter o melhor ângulo, sorte e outros talentos, mas sobretudo existe, com o passar do tempo, maior esforço e consciência de dizer além, de despertar raciocínios e de remeter à outras mensagens. Bela contaminação.

Um comentário:

Marc Sousa disse...

Bela expressão: "Jornalismo Contaminado". É isso que ainda move a paixão por essa profissão.

Contaminar é abrir os olhos, propor reflexão, fazer com que as entrelinhas sem entendidas e bem observadas.

Contaminar é acender a luz da obscuridade, sair das rédeas do padrão e construir a novidade.

Esse "jornalismo contaminado" é o combustível da mudança de comportamento, e nisso a foto e vídeo jornalismo são determinantes, afinal nada contamina mais do que uma boa imagem.

Parabéns pelo post.