quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Retrospectiva 1 – A Revista Bravo

Foto: Divulgação /Salve Geral

“O fim do tiroteio, ainda bem.” Assim a revista Bravo, na sua edição de outubro de 2009, começa a se referir a Salve Geral, filme dirigido por Sérgio Rezende. O texto de André Nigri continua rígido: “Ninguém aguenta mais filmes de favela e violência”.
A matéria aponta o desgaste de um ciclo de mais de dez anos, nos quais o cinema brasileiro voltou-se para a criminalidade urbana. Um período ao qual pertencem as maiores bilheterias, os orçamentos mais gordos e as maiores repercussões da história do cinema nacional: Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, Carandiru de Hector Babenco e Tropa de Elite, de José Padilha. Segundo a Bravo, esse subgênero estaria dando “claros sinais de fadiga”.
Mesmo no auge, essa vertente nunca passou fácil pela goela da revista. Recordando a edição de janeiro de 1998, pode-se observar que a Bravo já dava o tom de desconfiança que iria pautar quase todo o trajeto de crítica sobre esses filmes.
A matéria de capa tratava de um grupo que se organizava em torno da estética da criminalidade e da violência, através da Conspiração Filmes. Uma produtora do Rio de Janeiro, “dirigida por uma turma de jovens bem nascidos e bem educados, de famílias famosas no circuito cultural, a começar por José Henrique, filho do escritor Rubem Fonseca".
José Henrique Fonseca iria começar a rodar em abril daquele ano, o filme “O Homem do Ano”, adaptado do livro O Matador, de Patrícia Melo. A história é de um jovem pacato que aos poucos se torna um assassino justiceiro do bairro onde mora.
Num Box ainda consta: “Cláudia Abreu, José Henrique Fonseca e Patrícia Melo são a face mais visível de um grupo de artistas e produtores que pretende imprimir uma cor nacional ao veio da violência aberto por Quentin Tarantino e Danny Boyle”.
O clima era mesmo de início de fase. Cacá Diegues lembrava num artigo ao lado que, “Todo mundo sabe que o cinema brasileiro sempre viveu de ciclos mais ou menos curtos que se abrem com grande euforia e acabam se fechando debaixo de grande crise e extrema melancolia”.
Desde esse número, passando por todos esses anos, a Bravo procurou conter essa euforia e sempre propor o fechamento do Tiroteio.





Já em abril de 2002, sobre O Invasor, de Beto Brant, a revista concretizava a sugestão de que havia, sobretudo, ingenuidade na maioria das produções do gênero: “Filmes como O invasor, mostram um desconhecimento básico das nuances e das contradições que existem entre os bem postos na sociedade, de como se dão as tramóias políticas e de favorecimento, de como vive a acossada classe média e, finalmente, do perfil daqueles miseráveis que optam pelo trabalho degradante ou pela violência”.
E continua: “representa apenas o ápice de um tipo de cinema que, amparado numa produção literária, há anos vem procurando, com maior ou menos eficiência, dar conta da realidade do país. Nessa evidente dificuldade, o que se acabou cristalizando foi um gênero que simplesmente imita o imaginário coletivo, hesitante entre o mero entretenimento de suspense e o denuncismo vazio”.




Serão publicados mais três posts, recordando o olhar da imprensa, sobre o tiroteio dos últimos anos, nas telonas do país.

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